VOGUE: Pianista chinesa Yuja Wang se apresenta pela segunda vez no Brasil


Laís Franklin | VOGUE

Foi depois de um convite às pressas para tocar no Symphony Hall, em Boston, que a pianista chinesa Yuja Wang deu seu primeiro grande passo rumo ao reconhecimento internacional, em 2007. O repertório consistia no desafiador Concerto para Piano nº1 em Si Bemol Menor, de Tchaikovsky. Não bastassem a complexidade e a rapidez do andamento da música, acompanhada pela tradicional Orquestra Sinfônica de Boston, ela tinha o desafio de substituir o posto da argentina veterana Martha Argerich – uma das mais célebres pianistas do mundo.

A jovem chinesa, na época com 20 anos, realizou a tarefa com tamanha maestria que, ao fim dos 39 minutos do concerto, foi ovacionada pelo público e pela crítica local. “Uma performance com virtuosismo e equilíbrio impressionantes”, definiu o jornal The Boston Globe. O ótimo desempenho foi o trampolim que precisava para se firmar como figura de sucesso na cena erudita.

Agora, aos 31 anos, a musicista prodígio esbanja uma agenda lotada com cem apresentações por ano e vem angariando prêmios por onde passa, como o de artista do ano de 2017 pela Musical America, publicação que é referência em música clássica nos Estados Unidos. E é neste pique intenso que Yuja desembarca pela segunda vez no Brasil – a primeira, uma apresentação única na Sala São Paulo junto coma Osesp, em 2011, foi descrita pelo jornal O Estado de S. Paulo como “estarrecedora e inesquecível”.

Desta vez, ela promete surpreender novamente com três performances inéditas programadas para outubro: dia 2, também na Sala São Paulo, na capital paulista; dia 4, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro; dia 6, no Teatro Positivo, em Curitiba. Depois, segue viagem para Argentina, Uruguai e Chile, países que completam sua primeira turnê solo de recitais pela América do Sul. “Sempre fico emocionada com a resposta do público diante de uma arte que é tão abstrata como a música clássica”, conta a artista à Vogue.

A paixão pelo gênero musical surgiu logo na infância e foi estimulada pela mãe, que é bailarina. “Fui a um dos ensaios dela quando criança e me encantei imediatamente pela música do Cisne Negro, de Tchaikovsky. Foi um momento mágico”, relembra. Já a agilidade nos dedos e o timing rítmico preciso foram impulsionados pelo pai, que é percussionista de jazz. “Aprendi a ler partitura aos 4 anos e comecei as aulas dois anos depois, com um piano que meus pais ganharam de casamento.” Mesmo como talento nato, sua vida profissional teve capítulos conturbados, como a vez em que foi desencorajada por um professor a tocar o instrumento por ter mãos “pequenas, fracas e frágeis”.

Yuja passou por cima da provocação, se mudou de Pequim (cidade onde nasceu e cresceu) para Nova York aos 15 anos e aperfeiçoou a técnica no respeitado conservatório Curtis Institute of Music, na Filadélfia. “Sou feliz por ter aprendido tanto na China quanto nos Estados Unidos, pois tive diferentes referências musicais e pude melhorar minha técnica de maneira orgânica”, avalia. Nesse mix, há espaço até para o som pop de Rihanna e do rap de Kendrick Lamar.

Em 2009, ela entrou para a lista de artistas apoiados pela Rolex, que também contempla Diana Krall e Michael Bublé, e se tornou embaixadora da marca de relógios. O título foi outro divisor de águas na carreira e lhe rendeu o primeiro recital como solista no Carnegie Hall, em Nova York, em 2011, uma das três casas em que hoje atua como artista-residente.

Com forte presença no palco, Yuja passa longe do tradicional até mesmo no figurino e não abre mão de vestidos de paetê justos e coloridos e escarpins Manolo Blahnik, com salto mínimo de 12 centímetros. A fórmula de estilo, inclusive, virou sua marca registrada. “Se a música é linda e sensual, por que não se vestir à altura?”, questionou em entrevista ao jornal britânico The Guardian.

O repertório que vai tocar por aqui ainda é mantido em segredo, mas a grande expectativa gira em torno das improvisações que costuma fazer depois do primeiro pedido de bis da plateia e de sua interpretação primorosa daquele mesmo concerto de Tchaikovsky que a levou ao estrelato. Aguardem!